Com projeção oficial de até triplicar mortes nos próximos 10 dias, São Paulo se prepara para reabertura econômica

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou nesta quarta-feira o “Plano São Paulo” de reabertura das atividades econômicas após o período de isolamento social para conter o

target=”_blank” href=”https://brasil.elpais.com/noticias/coronavirus/a/” target=”_blank”>coronavírus que vigora desde 21 de março. O anúncio no entanto, não foi seguido de nenhum detalhamento além de uma data para acontecer: a partir de 11 de maio, quando a quarentena termina no Estado. Embora Doria diga que trata-se de um plano com “base na ciência”, as projeções, por si só, não apontariam para este caminho. Até o dia 3 de maio, São Paulo pode saltar dos atuais 1.134 mortos para 2.900, segundo as projeções oficiais. Isso se o isolamento social for mantido. Do contrário, números do próprio Governo apontam para 3.200 mortes, ou três vezes mais do que agora.

Pressionado por entidades empresariais, da indústria e do comércio, com quem se reuniu na semana passada, o governador disse que trará mais informações sobre a reabertura no próximo dia 8. Com isso, Doria ganha tempo com o setor, que, no caso dos comerciantes, já pede para abrir as portas no dia 1º de maio. Mas a decisão, garante o Governo, será tomada colocando a saúde, e não a economia, em primeiro lugar. “Aqui em São Paulo nem a economia nem a política se sobrepõem à instrução e à orientação da saúde e da medicina”, disse Doria. “Numa pandemia como essa, quem determina nossos passos são a saúde e a medicina”.

Os passos do Governo paulista devem ser seguidos por conta de um “ligeiro achatamento” mencionado pelo secretário da Saúde José Henrique Germann sobre a curva de crescimento dos casos confirmados da doença no Estado, que nesta quarta chegaram a 15.014. E esse é um dos critérios que será levado em conta para que o Governo anuncie a retomada dos serviços não essenciais. “É uma decisão epidemiológica”, disse o infectologista David Uip, coordenador do centro de contingência para o coronavírus em São Paulo. “Existe um plano que depende da evolução do vírus e das curvas epidemiológicas”.

8 Estados e interior de São Paulo

Os movimentos de São Paulo, epicentro da pandemia que já matou quase 3.000 pessoas no Brasil oficialmente, também acontecem quando o relaxamento das medidas de isolamento social chega a ao menos outros oito Estados, com menos casos e mortes. Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás, Espírito Santo, Paraíba, Sergipe, Tocantins e Distrito Federal anunciaram algum grau de redução da quarentena. Na capital catarinense, Florianópolis, foi liberado o comércio e shoppings em geral. No Rio, segundo Estado no ranking de mortes pela doença, o Governo também estuda medidas de flexibilização a partir de 11 de maio.

De acordo com o Governo paulista, a “nova quarentena”, como está sendo chamado o plano de retomada em quase 20 dias, só poderá ser estabelecida caso alguns critérios econômicos e do sistema de saúde forem considerados. Na saúde estão o cenário de evolução da pandemia, leitos disponíveis e capacidade de testagem. Nesta quarta, Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, afirmou que a fila de 17.000 exames que aguardavam por análise até a semana passada, agora está zerada. A gestão Doria garantiu que tem condições de acompanhar a evolução da ocupação de leitos em cada cidade, de monitorar o vírus por meio de testagem em massa e que a rede pública de saúde dá conta da demanda por hospitais, de acordo com as projeções feitas.

Já no cenário econômico, os critérios estabelecidos para a reabertura do setor serão a adesão às restrições no decorrer da quarentena, protocolos de saúde e higiene no trabalho e a definição regionalizada das medidas de retomada. Ou seja, um mapeamento do Estado que aponte a situação dos municípios —à revelia das regras atuais, algumas cidades, como o Guarujá, já decidiram por conta própria alterar as regras. São Paulo nunca chegou a atingir os 70% de isolamento social considerados ideal pelo Governo, oscilando sempre próximo aos 50%. Já há alguns dias, David Uip vem afirmando que 50% é um “bom número”, uma suavizada no discurso até então cravado na idealização dos 70%, que foi compartilhada pelo governador nesta quarta. “O temor das pessoas é claro. Por isso mais de 50% delas estão em casa”, disse Doria.

Na semana passada, reportagem do EL PAÍS detalhou que o número de óbitos tanto suspeitos quanto confirmados em decorrência da covid-19 é muito maior nas periferias da capital. No entanto, até o momento, o plano de retomada não sinalizou para nenhuma medida específica a ser tomada nas franjas da cidade, onde o isolamento social vem se mostrando ainda menor do que no restante do município.

“São Paulo não parou”

Diante dos números sombrios previstos para a economia —de acordo com analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Banco Central o PIB brasileiro deve recuar quase 3% neste ano, Doria fez questão de afirmar que 74% de toda a estrutura da economia do Estado seguiram suas atividades durante o isolamento social, que teve início em 24 de março, mencionando um a um os setores que continuaram na ativa. “Assim podemos calar todas as críticas injustas”, afirmou. “São Paulo não parou.” Fundador do Grupo dos Líderes Empresariais, o LIDE, o governador veio, ao longo desses quase 30 dias de quarentena no Estado, anunciado parcerias e doações milionárias do setor empresarial para o Estado.

O temor do governador é que sua nova política seja comparada à do ex-aliado e atual rival, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), contrário desde sempre às medidas de isolamento social devido aos seus impactos econômicos. Neste domingo, Bolsonaro esteve novamente nas ruas e participou de um ato pró-intervenção militar. Em São Paulo, apoiadores do presidente também foram às ruas, na avenida Paulista, pedindo pelo fim da quarentena. Nesta quarta, data da primeira entrevista coletiva desde a semana passada, Doria afirmou que manifestações devem ser feitas pelas redes sociais e não nas ruas. De acordo com ele, o setor de segurança pública do Estado está orientado para impedir qualquer fechamento de rua ou avenida na cidade.

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